Matéria publicada em 26/06/2017 no site da PMPA
Texto de: Cristina Lac
O Projeto Curumim Contou, desenvolvido durante todo o ano passado junto às turmas do terceiro ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Ana Íris do Amaral, na zona Leste de Porto Alegre, obteve reconhecimento nacional. De autoria das professoras Ana Cristina Motta da Silva e Patricia Dias Stefanello, o trabalho ficou em primeiro lugar na 14ª edição do Concurso Uka Curumim – Leitura de Obras de Escritores Indígenas, promovido pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ).
Com sede no Rio de Janeiro, a entidade representa a seção brasileira do International Board on Books for Young People (Ibby), organização sem fins lucrativos que busca aproximar as crianças dos livros, localizada na Suíça. Ana recebe a certificação nesta terça-feira, 27, durante o 17° Salão FNLIJ do Livro para Crianças e Jovens, no Rio.
De acordo com a professora, que leciona há 14 anos na escola Ana Íris, o projeto, voltado à cultura dos povos originários do Rio Grande do Sul, envolveu cerca de 80 alunos, de 8 e 9 anos, em diversas etapas. A culminância foi a produção do livro “Projeto Curumim Contou”, de 64 páginas, totalmente escrito e ilustrado pelos estudantes. O livro foi financiado pelo projeto social Escrevendo o Futuro, da empresa gaúcha Dufrio, com sede na Capital.
As atividades do projeto desdobraram-se a partir da leitura de autores brasileiros indígenas propostos pelo concurso (Daniel Munduruku, Olívio Jekupé, Jeguaká Mirim) e incluíram a pesquisa dos hábitos e legados das etnias que habitaram o território gaúcho – Caingangue, Charrua e Mbyá-Guarani. Os alunos também realizaram uma vivência na aldeia Tekoá Pindó Mirim, em Itapuã, Viamão, onde passaram um dia inteiro com os colegas da escola estadual Nhamandu Nhemopua, que fica dentro da aldeia. Os estudantes da escola indígena também participaram da produção do livro.
Para os alunos da Ana Íris, o resultado do trabalho teve grande impacto: além de aprender a valorizar os contadores orais, que vieram antes da escrita, eles associaram, por exemplo, que hábitos atuais típicos do gaúcho, como o chimarrão e o fogo de chão, têm origem nos índios. E também levaram o tema para suas famílias, descobrindo as raízes indígenas vindas de seus antepassados. Segundo conta a professora, vencer o concurso, além de gratificante, foi uma surpresa: “Nunca imaginei que tiraria o primeiro lugar! E trazer visibilidade para um povo esquecido e hoje marginalizado para o espaço-escola, para o espaço-social, é de alta relevância para o estudo da identidade do povo brasileiro.